O que fazer quando seu filho passa no Vestibular ainda no Segundo ano?

Nos últimos anos, temos verificado no Brasil a existência cada vez mais frequente de estudantes que concluem o 2º ano do ensino médio e conseguem a aprovação no vestibular sem terem concluído o 3º ano. Nesse contexto, tem surgido frequentemente a seguinte dúvida: esses alunos devem ingressar no ensino superior, pulando a etapa final do ensino médio? A questão é tão polêmica que ainda não há uma legislação específica que responda afirmativa ou negativamente à pergunta. Uma prática comum que tem sido adotada pelos secundanistas (e seus pais) aprovados no vestibular é recorrer à Justiça com um mandado de segurança para garantir a vaga. Como não é permitido entrar na faculdade sem o certificado de conclusão do ensino médio, esses estudantes procuram um curso supletivo para acelerar os estudos, finalizando essa etapa de sua formação.

Entre os defensores da ideia, particularmente os pais e seus filhos, o argumento principal é que o fato de o estudante ter conseguido a aprovação no processo seletivo já demonstra sua capacidade e seu merecimento para entrar numa universidade. Mas há também quem pense diferente e considere importante o adolescente não suprimir uma fase importante de sua educação.
Na defesa desse pensamento, estão os educadores que não enxergam com bons olhos o ingresso de estudantes na faculdade sem cursar o último ano do ensino médio. Consideram que isso pode ser uma perda essencial numa formação que objetiva qualificar o estudante para ser um cidadão e um profissional atuante, reflexivo e crítico no mundo do trabalho.

Na opinião de Adriana Santos, pedagoga do Colégio Equipe, é imprescindível que os estudantes possam vivenciar os três anos do ensino médio, na medida em que cada etapa proporciona o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à conclusão da educação básica. Essas etapas estimulam a relação entre o conhecimento e a realidade circundante, favorecendo a capacidade de intervenção nas situações enfrentadas no dia a dia. É importante não perder de vista que a aprendizagem é um processo e a aquisição do conhecimento se dá de modo progressivo.

A questão é, portanto, complexa e exige cautela antes de se adotar uma posição definitiva sobre o assunto. Sobretudo, se esse recurso transformar o que poderia parecer uma vantagem em uma armadilha, especialmente se for utilizado com a finalidade apenas de fazer o estudante evitar o esforço e o investimento que uma preparação mais sólida para o vestibular exige. Até que ponto essa nova prática que se instaura no ensino médio não é reflexo do tempo em que vivemos: busca de conquistas sem esforços, ênfase nos resultados imediatos e pouca preocupação com o processo.

*Rafaella Cursino é psicóloga e sócia da Trajeto Consultoria

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