Em 1822 o Brasil conquistou a independência de Portugal; saímos da condição oficial de colônia; mas, culturalmente, ainda estávamos muito ligados aos portugueses
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Regionalismo
A busca da identidade nacional, no Brasil, foi um longo e árduo percurso histórico; o processo colonial e todos os seus corolários criaram dificuldades inomináveis para o projeto de independência política e, consequentemente, cultural. Durante 300 anos, o país não passou de um apêndice de Portugal, que, aqui, detinha poder absoluto.
Em 1822, uma série de episódios culminou com a independência. No âmbito da cultura, coube ao romantismo a tarefa de construir a correspondente independência cultural e, portanto, a consciência da nacionalidade. Nessa altura, o Brasil ainda tinha o "álibi" do processo colonial, ou seja, tudo o que havia de errado, aqui, devia-se à instalação, entre nós, desse pacto injusto e desfavorável: escravidão, atraso, dependência... Descortinava-se, então, no horizonte, um futuro grandioso - estávamos livres das amarras que nos condenavam ao subdesenvolvimento.
Desse modo, o romantismo descreveu o Brasil de modo idealizado. Florestas virgens, praias de areias brancas, mares verdes como esmeraldas líquidas, fauna ímpar (araras, jandaias, onças...), clima bom, céu de anil... Nesse verdadeiro paraíso terreal, colocou-se um habitante forte, orgulhoso, perfeito, bonito, bom, heróico. É nesse berço que nasce o nosso regionalismo, filho do escritor José de Alencar.
Alencar, nosso primeiro escritor de âmbito nacional, planejou sua obra, no sentido de construir um painel histórico cultural do brasil. Ambientou obras nos séculos XVI, XVII, XVIII e no seu tempo (primeira metade do século XIX), de maneira que descreveu o país, desde seus primórdios. Percorreu sua história, descreveu suas geografias, inventou o índio como herói necessário (o elemento que estava aqui antes de o português chegar; portanto, o mais genuíno brasileiro) e visitou as suas "sociologias".
Foi no projeto dessa brasilidade que nasceu o seu regionalismo, que descreveu tanto o sertão nordestino como os pampas gaúchos dentro, é claro, desse mesmo diapasão idealizante - paisagem e homem são igualmente perfeitos.
Esse regionalismo, digamos, romântico não deixa de ser uma espécie de escapismo no tempo e no espaço - tem a ver com um desejo de compensação, típico do romantismo, somado a uma necessidade de representação desse novo espaço social e político que se delineava no Brasil - o país livre. Constrói-se pela supervalorização do pitoresco, da "cor local" (como diz a crítica), ou seja, o romantismo agrega à região valores, cores, sentimentos e qualidades que, na verdade, não lhe pertenciam, mas à cultura que nascia e precisava deles para crescer.
Paralela à hipertrofia imagística e estilística, constata-se uma complacência com os aspectos negativos das respectivas regiões, que são mostradas somente no seu lado positivo. O tiro pela culatra desse regionalismo é que ele é confinante, auto-suficiente e, perigosamente, provoca rivalidade.
No final do século XIX, o regionalismo amadurece e despe-se do saudosismo, do escapismo e da idealização para ganhar contornos deterministas - o herói ganha estatura épica, pois luta contra um ambiente inóspito e adverso que o vence, necessariamente.
Mais tarde, já na década de 30 do século xx, o regionalismo reaparece, no formato modernista - escrito numa linguagem e numa forma francamente antitradicionalistas, ele mantém a linha de determinação ambiental realista e acrescenta à receita uma visão de esquerda, a princípio, que depois deságua em denúncia das questões sociais e políticas, potencializadas pela questão climática.
Observe-se que ele, aqui, tem ligação com a estrutura agrária latifundiária, uma persistência colonial, que resiste à modernização do país trazida pela revolução de 30. A narração do confronto entre opressores e oprimidos ou entre adversários políticos esclarece o desenho dessa combinação explosiva de injustiça climática e política para o resto do país, que tinha curiosidade sobre essas especificidades.
Nesse momento, acham-se já delineados todos os ingredientes daquilo que se entende por regionalismo, que tira sua substância do local:
A) do fundo natural ou paisagem: clima, topografia, flora, fauna... (elementos que afetam a vida humana na região)
B) riquezas culturais (maneiras peculiares da sociedade humana estabelecida naquela região e que a fizeram distinta de qualquer outra): linguagem - modos de expressão nativos e populares, ritmos e sotaques diferentes -; reações dos indivíduos; tradições; cultura; civilização; etnia; formas de cozinhar, vestir, morar; lendas; mitos; tipos; imageria, simbologia...
Na verdade, longe de confinante e separatista, o estudo do regionalismo e suas "personalidades" exerce um papel libertador, pois se dá dentro do conhecimento e, portanto, da aceitação da pluralidade, que é nossa maior riqueza.
Em 1822, uma série de episódios culminou com a independência. No âmbito da cultura, coube ao romantismo a tarefa de construir a correspondente independência cultural e, portanto, a consciência da nacionalidade. Nessa altura, o Brasil ainda tinha o "álibi" do processo colonial, ou seja, tudo o que havia de errado, aqui, devia-se à instalação, entre nós, desse pacto injusto e desfavorável: escravidão, atraso, dependência... Descortinava-se, então, no horizonte, um futuro grandioso - estávamos livres das amarras que nos condenavam ao subdesenvolvimento.
Desse modo, o romantismo descreveu o Brasil de modo idealizado. Florestas virgens, praias de areias brancas, mares verdes como esmeraldas líquidas, fauna ímpar (araras, jandaias, onças...), clima bom, céu de anil... Nesse verdadeiro paraíso terreal, colocou-se um habitante forte, orgulhoso, perfeito, bonito, bom, heróico. É nesse berço que nasce o nosso regionalismo, filho do escritor José de Alencar.
Alencar, nosso primeiro escritor de âmbito nacional, planejou sua obra, no sentido de construir um painel histórico cultural do brasil. Ambientou obras nos séculos XVI, XVII, XVIII e no seu tempo (primeira metade do século XIX), de maneira que descreveu o país, desde seus primórdios. Percorreu sua história, descreveu suas geografias, inventou o índio como herói necessário (o elemento que estava aqui antes de o português chegar; portanto, o mais genuíno brasileiro) e visitou as suas "sociologias".
Foi no projeto dessa brasilidade que nasceu o seu regionalismo, que descreveu tanto o sertão nordestino como os pampas gaúchos dentro, é claro, desse mesmo diapasão idealizante - paisagem e homem são igualmente perfeitos.
Esse regionalismo, digamos, romântico não deixa de ser uma espécie de escapismo no tempo e no espaço - tem a ver com um desejo de compensação, típico do romantismo, somado a uma necessidade de representação desse novo espaço social e político que se delineava no Brasil - o país livre. Constrói-se pela supervalorização do pitoresco, da "cor local" (como diz a crítica), ou seja, o romantismo agrega à região valores, cores, sentimentos e qualidades que, na verdade, não lhe pertenciam, mas à cultura que nascia e precisava deles para crescer.
Paralela à hipertrofia imagística e estilística, constata-se uma complacência com os aspectos negativos das respectivas regiões, que são mostradas somente no seu lado positivo. O tiro pela culatra desse regionalismo é que ele é confinante, auto-suficiente e, perigosamente, provoca rivalidade.
No final do século XIX, o regionalismo amadurece e despe-se do saudosismo, do escapismo e da idealização para ganhar contornos deterministas - o herói ganha estatura épica, pois luta contra um ambiente inóspito e adverso que o vence, necessariamente.
Mais tarde, já na década de 30 do século xx, o regionalismo reaparece, no formato modernista - escrito numa linguagem e numa forma francamente antitradicionalistas, ele mantém a linha de determinação ambiental realista e acrescenta à receita uma visão de esquerda, a princípio, que depois deságua em denúncia das questões sociais e políticas, potencializadas pela questão climática.
Observe-se que ele, aqui, tem ligação com a estrutura agrária latifundiária, uma persistência colonial, que resiste à modernização do país trazida pela revolução de 30. A narração do confronto entre opressores e oprimidos ou entre adversários políticos esclarece o desenho dessa combinação explosiva de injustiça climática e política para o resto do país, que tinha curiosidade sobre essas especificidades.
Nesse momento, acham-se já delineados todos os ingredientes daquilo que se entende por regionalismo, que tira sua substância do local:
A) do fundo natural ou paisagem: clima, topografia, flora, fauna... (elementos que afetam a vida humana na região)
B) riquezas culturais (maneiras peculiares da sociedade humana estabelecida naquela região e que a fizeram distinta de qualquer outra): linguagem - modos de expressão nativos e populares, ritmos e sotaques diferentes -; reações dos indivíduos; tradições; cultura; civilização; etnia; formas de cozinhar, vestir, morar; lendas; mitos; tipos; imageria, simbologia...
Na verdade, longe de confinante e separatista, o estudo do regionalismo e suas "personalidades" exerce um papel libertador, pois se dá dentro do conhecimento e, portanto, da aceitação da pluralidade, que é nossa maior riqueza.
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